"Sugestões Mentais" / Roque Jacintho / Revista Reformador Fevereiro de 1965.
Em todos os planos que o homem amadurece, ele inscreve o êxito como seu ponto de chegada.
Por isso, o insucesso, tão frequente em todos os caminhos da
existência, geralmente se levanta por surpresa dolorosa que o acolhe num
determinado ponto de suas realizações individuais ou coletivas,
provocando-lhe enorme desalento, porque raramente o homem examina com
frieza as adversidades naturais em toda e qualquer empresa.
Antevivendo a vitória, numa ruidosa manifestação íntima,
ritual'>espiritualmente está desajustado para as aparentes derrotas,
as quais mais não são que avisos de retificação no caminho tomado, em
função da necessidade de ascensão ritual'>espiritual a que todos nos
destinamos.
Ele também caíra, contra todas as suas
expectativas menos otimistas, e estava mergulhado nesse estado mental
depressivo do desengano, sentindo o gosto desagradável dos problemas.
Tentara reerguer-se e, contra todas as suas suposições, não conseguia
reencontrar-se na galeria os vencedores materiais, de que fora brusca e
inesperadamente alijado!
Tensão nervosa.., cólera... mágoa
imensa! Espíritos obsessores encontraram as portas de seu coração
inteiramente abertas, com acesso facilitado, e ali começaram a deitar a
semente do suicídio, ampliando-lhe, a pouco e pouco, as reflexões
derrotistas. Parecia-lhe não haver nenhuma alternância a mais; nenhum
outro recurso para o equilíbrio... Diziam-lhe e mostravam-lhe o
fracasso, mais o fracasso, somente o fracasso!
Cada
conversação que se suspendesse à sua chegada, ou sussurros que ele não
pudesse aclarar — pareciam-lhe criticas e punhaladas de ironia, que lhe
desfechavam em surdina.
Mas, ele lutava, tentando a reação.
Era espírita convicto. Precisava vencer a depressão mental resultante do
amor-próprio ferido, da humilhação experimentada, da falta de numerário
até para condução coletiva!
E o obsessor surgiu-lhe à frente:
— Você é espírita. Conhece bem as leis da Espiritualidade. Pode, por
razão de seus conhecimentos, do lado de cá, muito mais facilmente do que
aí, desembaraçar-se das dificuldades. Você não pode deslustrar ou
manchar a sua doutrina. Preferível é o suicídio nobre, o sacrifício
valoroso, para a que sua queda não venha macular o Cristianismo
Redivivo. Interrompe esta existência, e reiniciará outra depois de
retemperar-se! Afinal, Você sabe que temos aqui o Instituto de
Recuperação dos Suicidas Justificados...
Mas, ele sacudiu de si as insinuações.
Sabia — avivaram-lhe os Mentores Espirituais — que o suicídio jamais se
justifica, por ser uma deserção voluntária do cadinho de provas, as
quais te apresentam na pauta da Vida para testar-nos as aquisições
incorporadas no patrimônio do Espírito.
E sabia que, por
conhecer o seu ponto de chegada na Vida Eterna e as leis que regem a sua
caminhada em direção do aperfeiçoamento ritual'>espiritual, nada o
autorizava a aceitar o abandono das dificuldades.
Se
desempenhava tarefas no Espiritismo-cristão, a Doutrina não sofreria
pelos problemas econômicos e financeiros que ele vivia, porque ela
estava codificada justamente para servi-lo em sua infância
ritual'>espiritual e para orientá-lo sempre, e não para exigir-lhe o
holocausto, em seu nome, qual se fora um Moloc a exigir o sacrifício de
vítimas para aplacar a sua biliosidade de gênio virulento do mal.
Caíram assim, as argumentações sutis, as sugestões mentais da
Espiritualidade inferior, aparentemente lógicas, mas que nunca resistem a
uma análise fria ajustada aos quadros reais do Cristianismo. E ele não
se rendeu ao desequilíbrio, com essa influenciação direta dos que
intentavam envolvê-lo em seu estado mental doentio, servindo-se do
aviltamento de princípios eternos para fazer o convite ao suicídio.
Fonte: Reformador – fevereiro, 1965
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