VAIDADE RELIGIOSA
Ramakrishna, um dos maiores avatares que a Humanidade já conheceu,
dizia que “podem desaparecer gradualmente as vaidades comuns a todos os
homens, mas difícil de morrer é a vaidade de um religioso a respeito da
sua religiosidade”.
Analisando o sábio conceito, observamos, no
entanto, que maior vaidade existe no religioso não em relação aos
demais religiosos, adeptos de crenças diferentes da que ele professa,
mas sim em relação ao seu entendimento dos preceitos doutrinários que
abraça, que considera superior ao entendimento de seus próprios irmãos
de fé.
Vejamos se conseguimos ser mais claros no que pretendemos dizer.
Por exemplo: até certo ponto, compreende-se a rivalidade entre os
adeptos de duas crenças religiosas, em suas interpretações da Verdade,
por vezes absolutamente antagônicas uma à outra, através de princípios
praticamente inconciliáveis. Como, porém, compreender-se o ódio com o
qual, não raro, um espírita se lança contra outro, apenas e tão somente
porque, sobre determinado tema, possuem um ângulo de visão um pouco
diferente entre si?!
Numa Casa Espírita há quem,
frequentemente, discuta – e discuta feio! – por conta do passe, da
reunião mediúnica, da tarefa assistencial, cada qual buscando,
vaidosamente, a primazia de seu ponto de vista.
No Movimento
Espírita, infelizmente, a vaidade campeia, nos deixando profundamente
envergonhados e entristecidos conosco mesmos, que falhamos nas mais
comezinhas demonstrações de nossa fé.
Debaixo de estranha
fascinação, muitos comparecem a essa ou àquela reunião apenas com o
propósito de discordar do companheiro que, no fundo, está procurando
fazer o melhor ao seu alcance, preocupado com o conteúdo, e não com o
rótulo.
Muitos outros, a fim de continuarem vinculados às atividades de seus respectivos grupos, impõem certas condições:
- Tem que ser do meu jeito, ou eu me afasto...
- Eu sou o fundador desta Casa – coloquei muito dinheiro do bolso aqui...
- Sou o mais antigo frequentador e não aceito que passem por cima de minha autoridade...
- Aqui quem toma todas as decisões sou eu – não acato nem a palavra do Guia...
A vaidade de um espírita a respeito de seus conhecimentos, ou
pseudoconhecimentos, é muito difícil de morrer, e mesmo quando morre,
durante muito tempo, permanece mumificada... Como falou Ramakrishna, é
mais fácil que lhe desapareça qualquer outra vaidade comum!
Daí
a necessidade de nos empenharmos, com todas as forças do espírito, para
que o Espiritismo, em nossas existências, não seja mais um pedestal
para as ilusões efêmeras que buscamos, das quais, evidentemente,
haveremos de nos arrepender amargamente.
Feliz, pois, do
espírita cujo único propósito na Doutrina, a cada dia, já seja o de tão
somente servir, incondicionalmente, à Causa do Evangelho Redivivo, sobre
o homem velho que resiste em “morrer” dentro de si lançando mais uma pá
de cal!...
INÁCIO FERREIRA
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